Carolina Scheid, de Porto Alegre/RS, é formada em Ciências Sociais pela Unisinos e Gestora de RH. Entre em contato clicando aqui.
O estado natural do nosso cérebro é pensar. Sobretudo, as sociedades ocidentais valorizam excessivamente o opinar, estar conectado e informado e o conhecimento lógico e linguístico. Nossas mentes são, praticamente, programadas para raciocinar enquanto estamos acordados.
Somando uma mente ativa 100% do tempo com uma rotina intensa, cheia de autocobranças por sucesso e reconhecimento – para ser bem sucinto, invariavelmente, geramos emoções negativas. Boa parte do que pensamos está ligada aos sentimentos que exploramos e significamos ao longo do dia.
A defesa do organismo diante de sensações ruins
Cada vez que nos deparamos com uma situação, ou mesmo que apenas nos remetamos a uma sensação ruim, nosso organismo se prepara para nos defender. Uma ação em cadeia libera hormônios muito potentes.
Eles deixam nossos sentidos em alerta: circulação, coração, sistema digestivo e imunológico. Todos se armam na nossa defesa. Vez ou outra isso não faria mal, mas como já diz o ditado: a diferença entre o remédio e o veneno, é a dose e a frequência. Acaba intoxicando.
Como evitar os sentimentos ruins
A origem de todo esse movimento orgânico é a nossa mente. Tanto do remédio e do veneno, quanto do próprio antídoto, felizmente. Então, parafraseando Shakespeare, “não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito”. É bem isso. O que fazer é simples, mas nem por isso fácil. Precisa de treino, de disciplina.
a diferença entre o remédio e o veneno, é a dose e a frequência: Acaba intoxicando
Para começar, é importante ter clareza de que essas emoções têm origens distintas. Se quiser trabalhar com elas, é preciso, antes de qualquer coisa, identificar essa fonte. Então, da próxima vez que um pensamento ruim vier, tente rastreá-lo nas suas experiências anteriores.
Questione-se sempre
Quando foi que se sentiu assim outra vez? A que atribui essa sensação? O que fez com ela da outra vez que sentiu assim? O resultado da sua ação sobre ela foi benéfico pra você? Gerou aprendizado ou sofrimento?
Cada vez que nos deparamos com uma situação, ou remetamos a uma sensação ruim, nosso organismo se prepara para nos defender
Cada sensação tem um fio condutor que leva a um interruptor específico. Descubra a origem e faça a formatação dessa crença, buscando a natureza destas percepções. A tendência é que a gente reproduza modelos mentais em situações semelhantes. Então, fazer os questionamentos acima, é o primeiro passo para quebrar esse circuito.
Antídotos para as emoções negativas
Funciona como em qualquer trauma que tenhamos passado. Se uma vez voamos de avião e passamos por uma turbulência muito forte, essa memória é reativada cada vez que a aeronave sacudir um pouquinho. Longe de uma turbulência significar que o avião vai cair, claro. Mas a gente fica sempre com medo. Basta pensar na pequeníssima probabilidade de um avião cair (uma chance entre 11 milhões).
Bem, mas para facilitar o início da prática, relaciono antídotos básicos para lidar com as emoções negativas mais comuns. Nada se resolve num passe de mágicas, mas com o tempo a gente aprende a neutralizar grande parte.
da próxima vez que um pensamento ruim vier, tente rastreá-lo nas suas experiências anteriores
4. Para controlar a raiva
O primeiro ponto é entender que esse sentimento é seu. A gente diz “isso ou aquele me dá uma raiva”, mas não importa a origem.. Ela é sua! A escolha por se enraivecer é sua. A raiva é um sentimento rudimentar, quase infantil. E podemos lidar com ela como fazemos com uma criança manhosa, que faz birra, se joga no chão do supermercado, mas que em seguida já está distraída com outro estímulo.
Dê-se outro estímulo quando tiver raiva. Ao invés de investir na geração daquele sentimento ruim, tendo em mente que normalmente ela dá e passa sozinha, antecipe o controle. Por exemplo, um exercício de respiração bem básico: coloque-se numa boa postura, feche os olhos e inspire pelo nariz, soltando pela boca. Bem devagar, por várias vezes, até sentir que desacelerou.
A raiva é um sentimento rudimentar, quase infantil
Também pode fazer este exercício, andando, contando os passos de uma ponta a outra na sua sala de trabalho… Raiva é questão de tempo.
3. Para lidar com o orgulho
Lembre-se: ser orgulhoso demais, ou querer ter razão a todo custo, está ligado à crença de que você é melhor que o outro. Isso implica que, quase sempre, alguém também será melhor do que você. Acreditar nisso impede-nos de crescer, porque também impede de continuar aprendendo em todas as oportunidades.
ser orgulhoso demais está ligado à crença de que você é melhor que o outro
Seja grato e honrado por suas experiências e oportunidades na vida. Pense naquela máxima que rola por aí: você prefere ser feliz ou ter razão? Entendeu? Então pronto. Seja feliz. Avalie sempre as perdas e ganhos: não é preciso passar sempre por cima da autoestima, mas também atente para o quanto você está perdendo de oportunidades de fazer e viver coisas legais por orgulho. A vida é um sopro.
2. Para diminuir o apego
Tenha sempre em mente que tudo na vida, tudinho, é transitório. A única certeza é justamente a mudança. Viva e celebre o dia de hoje, as pessoas que estão com você nesse momento. Ao acabar de ler esse texto, ele já estará no passado. O apego é a maior causa de sofrimento, porque o ser humano nunca está satisfeito.
Você deseja agora algo com muita intensidade, batalha por muito tempo para conseguir, quando conquista, logo a satisfação é substituída por um novo desejo e o ciclo não tem fim. Lembre-se: felicidade não tem a ver com posse. Basta olhar à volta e ver quanta gente tem menos poder aquisitivo que você e, no entanto, é muito mais feliz.
Tenha sempre em mente que tudo na vida é transitório
Desapegar-se completamente é bem difícil. Comece contemplando a natureza mutável de todas as coisas e irá valorizar mais quem e o que você tem hoje.
1. Para controlar a inveja
Além de parte das ponderações que vimos acima, o ponto crucial é praticar a generosidade. Obviamente: com mais gratidão e menos apego, a tendência é que você se torne menos invejoso. Invejoso é atributo forte, não é mesmo? Mas que atire a primeira pedra quem nunca…
com mais gratidão e menos apego, a tendência é que você se torne menos invejoso
O exercício da generosidade lhe obriga a olhar o que você tem, para dar e o que falta para o outro. Olhando para isso, vamos enxergar a quantidade de gente a nossa volta que precisa de ajuda, de qualquer ordem, e que tem menos sorte do que nós. E o inverso também é verdadeiro: você também foi e sempre será ajudado por outras pessoas generosas.
Conhecer a mente ajuda a controlar sentimentos ruins
A raiz de todas essas emoções está no desconhecimento de como nossa mente opera para gerá-las. A partir do momento que você começa a se dar conta que está criando um pensamento negativo, coloque uma trava no desenvolvimento de sentimentos sobre ele. Tente isolar a emoção para poder observá-la, descobrindo a origem da crença geradora. Nesse momento, use toda sua racionalidade e conhecimento para tentar dar novo sentido ao que está sentindo.
A raiz de todas essas emoções está no desconhecimento de como nossa mente opera para gerá-las
Lembre-se que a vida toda você cultivou cada uma dessas emoções negativas e as reiterou, por muitas vezes. Não será da noite para o dia que vai aprender a se desintoxicar delas. Com algum tempo investido, você vai ver que mudar o mindset é mais fácil do que imagina.
Um passo de cada vez.