Como a prática da empatia pode mudar sua vida para melhor


Carolina Scheid
, de Porto Alegre/RS, é formada em Ciências Sociais pela Unisinos e Gestora de RH. Entre em contato clicando aqui.

 

Segundo o dicionário, empatia significa “capacidade de sentir o que o outro sente, como se estivesse na mesma situação”. Também é conhecida como colocar-se no lugar do outro. As ciências sociais usam o conceito de alteridade para explicar isso – separando o “eu” do “outro”, respeitando sua condição distinta, o direito de ser do jeito que é e considerando toda sua construção individual.

+ Ser ou não ser não está em questão

Vivemos em um mundo de ânimos muito exacerbados, onde a compaixão e o individualismo estão lado a lado. Sabemos que é feio ser egoísta, mas a vida anda tão complicada que dá vontade de fecharmos-nos em nossos mundinhos perfeitos e deixar o resto explodir. Mas o mundo é redondo e tudo está interconectado – inclusive os problemas.

É essencial ter compaixão e praticar a empatia

Que ser humano, criado com um mínimo de orientação social, consegue deitar a cabeça no travesseiro todas as noites sem  voltar suas preces e mentalizações para os países em guerra ou crianças que dormem na rua, por exemplo? Ao contrário do que parece, voltar a atenção para quem está em uma condição menos benéfica que a nossa  não traz mais sofrimento, gera compaixão, vinda da habilidade de se colocar no lugar do outro. Não é ter pena, é ter o desejo de que a situação possa ser alterada, melhorada.

E quando a gente olha “para baixo”, além de gerar compaixão, faz com que a percepção dos nossos problemas seja redimensionada, dando a eles o tamanho que têm, que merecem. Seguramente menor do que nos parecem. Não é uma concorrência para saber quem sofre mais, mas sim uma contemplação. Tudo na vida é uma questão de perspectiva, foco e do tamanho que se dá.

voltar a atenção para quem está em uma condição menos benéfica que a nossa  não traz mais sofrimento, gera compaixão

Empatia é uma competência social que pode ser desenvolvida. Você pode nascer com uma tendência natural a tê-la, mas também pode treinar para alcançá-la. Aqui vão três passos básicos para isso:

1. Dispa-se do julgamento

“E se fosse comigo?”. Para começar a se colocar no lugar do outro, antes de tudo, livre-se do julgamento. Tenha sempre em mente que o outro quer as mesmas coisa que você: ser feliz, aceito e respeitado. E a sua forma de alcançar esses desejos não é o único caminho. Você faz suas escolhas baseadas naquilo que acredita ser o certo, o melhor. Essa crença é pautada na sua criação e experiência de vida, que não são iguais as dos outros.

Se você é ocidental, provavelmente acha o cúmulo da submissão uma mulher muçulmana vestir uma burca para sair na rua. Mas já parou para pensar o que ela acha da naturalidade com a qual você exibe o corpo? Tudo é uma questão de perspectiva.

Procure entender o outro ao invés de julgar suas atitudes

2. Ouça com atenção

Nossos ouvidos também se condicionam a ouvir o que queremos. Ariano Suassuna dizia, entre tantas outras coisas lindas, que o ser humano não precisa de curso de dicção e oratória, mas sim de “escutatória” – tem que aprender a ouvir.

Abra uma escuta dedicada e genuína quando alguém compartilhar alguma situação com você. Ouça para compreender, para aceitar a perspectiva do outro e não para ter uma resposta ou opinião a dar. De novo: se for para a escutar já com uma opinião pré-concebida, não vai gerar empatia.

Empatia é uma competência social que pode ser desenvolvida. Você pode nascer com uma tendência natural a tê-la, mas também pode treinar para alcançá-la.

3. Aceite que o outro pode pensar diferente

As pessoas nem sempre farão as coisas como queremos. Assim como você também não agradará sempre. O modo como agimos e pensamos são afetados pelas nossas experiências, e cada um tem a sua. Se concordamos, legal. Se não concordamos, legal também. A divergência soma, prepara para novas construções de pensamentos e visões.

Quantas vezes ao longo da vida não mudamos de opinião depois de compreender alguma coisa através de outro prisma? Só não muda de ideia quem não tem. Aceitar que o outro pensa diferente não fere nossa integridade. É apenas respeito, não vender a alma ao cara lá debaixo. Mas, reforçando: o objetivo é a compreensão e o respeito pela condição do outro, não chegar a um denominador comum. Não é concorrência, é exercício de humanidade.

Transforme seu modo de ver a vida através da empatia

Em última análise, empatia também é uma forma de olhar o mundo de forma divergente. Observamos através da lente que temos. Se trocamos os óculos, transformamos o que vemos a nossa frente. Seguindo essa linha de raciocínio, empatia é pegar os óculos de alguém emprestados.

o objetivo é a compreensão e o respeito pela condição do outro, não chegar a um denominador comum. Não é concorrência, é exercício de humanidade.

Vai chegar um momento que, com tanto treino, nossa visão de mundo será completamente diferente e, consequentemente, diminuiremos nosso potencial de sofrimento. Para seguir contemplando essa perspectiva ilimitada de desenvolvimento pessoal, que é o exercício de geração de empatia, deixo uma passagem da obra “Para Abrir o Coração”, de Chagdud Tulku Rinpoche, proeminente mestre budista:

“Tentar mudar o mundo sem mudar a nossa mente é como tentar limpar o rosto sujo que vemos no espelho esfregando o vidro. (…) Do mesmo modo, se pretendemos ajudar a criar as condições que propiciam a paz e o bem-estar no mundo, precisamos, antes de mais nada, refletir essas qualidades.”

Um passo de cada vez.