Bruninha Tassoni, de São Caetano/SP, casada e mãe de primeira viagem do Théo, prorietária do Utopia Açai e aprendiz nessa viagem deliciosamente maluca que é maternidade. Entre em contato clicando aqui.
Desde a minha adolescência, me lembro do imenso desejo de ser mãe. Sempre foi meu maior sonho e, consequentemente, o medo de não conquistar a maternidade, também se tornou o maior de todos.
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Há 2 meses fiz, por fazer, um teste de farmácia. Sabe quando você pensa que é só mais um atraso?
O resultado, quase instantâneo, me deixou perplexa e me fez olhar o teste e reler o resultado mais de 20 vezes, para garantir que não se tratava de um delírio. Coloquei até o teste ao lado do desenho da embalagem para conferir se realmente era aquilo que eu estava vendo.
Chorei, sorri e me desesperei. Tudo ao mesmo tempo.
Fiz mais um teste e recebi o mesmo resultado. Já estava mais conformada. Ainda assim, imaginei que poderia ser algum engano, e então, fiz o famigerado teste de sangue e aquele positivo gritando em neon apareceu.
A gravidez do começo ao fim
Uma mistura de medo e de felicidade tomou conta de mim. Como seria o dia seguinte, a rotina, o futuro daqui a 20 anos, a pausa na carreira, enfim, fiquei pensando em tudo sem pensar em nada de maneira concreta. No entanto, a felicidade indisfarçável sempre esteve presente. Pelo momento novo e por estar, enfim, iniciando a realização do maior sonho da minha vida.
As primeiras semanas foram de serenidade até que o mal estar finalmente começou. Uma palavra que não define exatamente como eu me sentia, mas é muito branda perto de tudo que estava passando e, talvez por isso, as pessoas a minha volta não se davam conta da gravidade que tinha pra mim.
Eu me sentia doente, 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Sem conseguir comer ou sequer beber água, porque o estômago não aguentava todo aquele peso. De repente eu não me reconhecia mais. Perdi a dimensão sobre o que eu gostava ou não, o que tinha vontade ou não de comer, se conseguiria beber água ou não e nem quais refeições me caiam bem ou não, tudo havia mudado.
Também comecei a desconhecer meu próprio corpo. Logo eu, que não sou do tipo encanada com defeitos, fiquei sem disposição para praticamente nada. Perdi a capacidade de raciocínio.
Parecia que o cérebro não estava fazendo ligações simples que fazia antes. Comecei a esquecer de várias coisas e entrar em um puta conflito interno.
Não sabia quem eu era. Só sabia que eu tinha me tornado uma inútil que não conseguia fazer nem 10% do que fazia normalmente. Isso me trouxe uma tristeza imensa, muita raiva por ter acreditado em toda a romantização em torno do processo de gravidez, que fora imposta desde a infância.
A gravidez por dentro da gravidez
Fiquei indignada por ter acreditado nos comerciais de TV, nas novelas e nos filmes, em que as gestantes aparecem felizes e plenas. Nas pessoas ao meu redor dizendo que era a melhor coisa de suas vidas, que o amor pelo filho é único, maravilhoso e que todas precisam sentir, afinal, é na gravidez que você, mulher, sente a maior satisfação da sua vida.
Eu acreditei em tudo isso, provavelmente desde a primeira boneca que ganhei, mas só me contaram a parte boa. Ninguém me contou as angústias e aflições que essas grávidas passaram e que as grandes maiores sortudas foram aquelas que quase não sentiram nada.
Como se não fosse suficiente, mais um sentimento foi somado a este turbilhão que minha vida havia se tornado: Culpa. Como assim eu não estou me plena e transbordando felicidade? Sem sentir quase nada durante o maior momento da minha existência, gerando uma vida dentro de mim e ainda, realizando meu maior sonho? Não é possível. Tem alguma coisa errada comigo.
Comecei a conversar com todas as amigas que já tiveram filho, com a minha mãe, minhas tias, a acompanhar grupos no Facebook, pesquisar na internet, encontrar blogs e percebi que muitas mães – muitas mesmo – sentiam a mesma coisa. Pelo menos eu não era a única.
A gravidez, o preconceito e o conforto
Todo o conforto que ouvi e li vieram no formato de “vai passar”, “faltam só alguns meses”, “toma cuidado pra não ser chata”, “cuidado com o seu casamento, muitos divórcios acontecem nessa fase”, “são os hormônios”, “não senti nada disso”, “quanto drama”, “mas está só no começo, você vai ver depois” e todos estes axiomas.
Fico lembrando de quando descobri que minha dinda tava grávida da Heloísa, chorei pra crlh e falei que não ia gostar dela, hoje em dia não vivo sem minha Toquinho
— Mirela Jéssica ❤️ (@crvg_mirela) 23 de junho de 2018
Me cinto tão grata tão completa por ter meu filho, quando descobri q estava grávida perguntei ” PORQUE EU MEU DEUS ” mais hj eu tenho a certeza q n poderia ter acontecido algo melhor que a vida do meu benzinho 💙💙
— Maay 💎 (@may_nlvida) 22 de junho de 2018
Lembro de quando eu descobri que estava grávida eu entrei em um desespero,não queria de jeito nenhum,hoje olho pra essa coisinha é só consigo agradecer a Deus.. ela é o amor da minha vida ❤️❤️❤️❤️ pic.twitter.com/LKku6Q2z2R
— Nicole🌸 (@nicoliveira_) 23 de maio de 2018
“Vai passar” foi a frase que mais ouvi. E a minha resposta quase imediata costumava ser: “Que bom que vai passar”. Se ficasse assim pra sempre, muitas gestantes perderiam o controle e talvez sequer teriam mais filhos.
Eu sei que tudo passa. Já vivi muita coisa e passou. No entanto, saber disso não minimiza e nem conforta o que estava sentindo. Não diminui os vômitos na hora de dormir, de acordar, depois do almoço e sem aviso.
Saber disso não diminuía a tristeza que estava sentindo quando não conseguia fazer as coisas mais simples porque estava passando mal.
Não tirava o meu medo de comer as coisas que gostava, não tirava o meu medo de comer fora e passar vergonha, de pegar metrô e sair vomitando no povo e até de sair vomitando pela casa e ter que sair correndo para os cachorros não chegarem perto.
Apesar de tudo isso, sou muito privilegiada e sei disso. Por ter um marido companheiro, que assumiu a bronca toda quando não dei conta, mesmo tendo milhões de coisas pra fazer, de ter um chefe do caralho que além de tudo é um grande amigo e uma das melhores pessoas que já conheci na vida.
Sim, sou privilegiada e mesmo assim, era difícil pra cacete. Fico imaginando o tamanho do preconceito que outras mulheres grávidas sofrem com seus chefes, achando que é preguiça. Colegas de trabalho ou maridos que acham que é frescura e até família que acha que é drama, afinal, a vó teve 10 filhos.
Hoje é um dia dessas fases ruins, dores com o útero crescendo e esticando, incômodo ao subir escadas e andar um pouco, a janta de ontem não parou no estômago, o café da manhã de hoje também não, a descoberta de que você pode vomitar e fazer xixi nas calças ao mesmo tempo, medo de almoçar e sem vontade de comer mesmo sabendo que vc tem que comer pq tem um filho na sua barriga que depende totalmente de você e que você percebe que suas vontades já não importam mais, que não é mais você, mas é seu filho.
Não pode ficar sem comer, mesmo seu estômago estando horrível, mesmo com medo e mesmo sem vontade. Não importa. Seu filho precisa comer.
É esse um dos significados da maternidade? Você ter que aceitar que foda-se o que quer, tem que ser responsável e passar por cima disso porque não é mais sobre você, mas sobre seu filho?
Ainda não sei o que eu acho de tudo isso, eu só decidi que vou compartilhar os momentos difíceis também, não apenas as foto felizes e reluzentes com o barrigão. Espero que meu depoimento conforte outras mães, assim como já fui confortada, com outros relatos.
Deixando apenas uma coisa bem clara, tudo isso tem a ver com a gravidez e seus perrengues, não com o filho. São coisas distintas. Amo meu filho. Mas não gosto da gravidez. Uma frase de uma amiga me marcou e reflete bem isso: “O ruim de estar grávida é a gravidez!”
Nos próximos posts a continuação dessa deliciosa aventura que é ser mamãe 🙂