Neymar é exemplo de realização profissional

Colunista: Beatriz Andrade
Beatriz Andrade é jornalista, MBA na Indústria do Futebol pela Universidade de Liverpool, MAS em Administração e Tecnologia do Esporte pela Academia Internacional de Ciências e Tecnologia do Esporte (Suíça) e certificada em Estudos sobre Corrupção pela Universidade de Hong Kong. Experiências profissionais no Santos FC, Coritiba FC, Confederação Brasileira de Rugby, Comitê Paralímpico Internacional, Museu Pelé e Rio 2016. Entre em contato clicando aqui.
A foto que ilustra o artigo foi tirada em outubro de 2005, quando eu e uma amiga escrevíamos um livro-reportagem sobre os sonhos que envolvem a carreira de um jogador de futebol. Neymar tinha apenas 13 anos e, na época, o Santos FC havia retomado o protagonismo do futebol brasileiro após anos de fila com o brilho da dupla Diego e Robinho, vinda das categorias de base. Diego já havia sido vendido para o Porto e Robinho tinha acabado de sair para o Real Madrid.

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O terceiro raio na Vila Belmiro

Embora a torcida lamentasse o “fim” daquela geração, funcionários do clube garantiam que havia na base um menino “ainda melhor que Robinho”. Bicampeão mundial pela seleção brasileira nas Copas de 58 e 62, capitão e campeão de tudo pelo Santos, Zito, então gerente de futebol, foi o responsável por levar Neymar ao clube quando ele tinha apenas 12 anos.

Corneteiro e difícil de agradar, o único homem que dava bronca em Pelé dizia que a noite em que viu Neymar jogar pela primeira vez foi uma das mais felizes de sua vida.

A confiança no futebol do garoto era tão grande que ele já contava com privilégios proporcionados pelo clube: ao contrário dos colegas de time, estudava em colégio particular, recebia ajuda de custo e morava em um bom apartamento. Quando chegava ao campo do Portuários, utilizado pelo Santos, ia para a quadra de salão jogar artilheiro. Ali, já exercia liderança e comandava a brincadeira.

Quando chegava a hora de “trabalhar”, vestia o uniforme que ficava gigante em seu corpo franzino e a chuteira sensação do momento dada por sua patrocinadora pessoal. O empresário de Neymar, o mesmo de alguns nomes famosos, já percorria o mundo oferecendo seu futebol. Seus colegas de time, também recém-saídos da infância, demonstravam mais maturidade ao lidar com as expectativas em torno do “amigo famoso” do que os adultos que os cercavam.

Neymar treinando na base do Santos

Quando perguntado sobre a excessiva atenção recebida pelo colega, um deles lembrou que uma contusão mais séria – algo bem possível no futebol e na vida de Neymar, que já era caçado em campo – poderia ser um impeditivo para que ele se tornasse tudo o que esperavam dele. E ainda existiam outros aspectos, como o desenvolvimento de seu corpo, ainda em estágio de maturação, ou sua capacidade de demonstrar talento e lidar com pressão quando chegasse ao time profissional.

A estréia de Neymar foi cheia de expectativas

Esse dia chegou pouco mais de quatro anos após a foto e as conversas no campo do Portuários. Neymar estreou no time profissional do Santos com 17 anos e os torcedores que estavam no Pacaembu naquele Santos e Oeste saíram com a sensação de que o menino era, de fato, “tudo aquilo que diziam”.

Neymar marca o seu primeiro gol pelo Santos FC em 2009

O “encantamento santista” rapidamente virou realidade e seu talento pode ser mensurado com títulos e prêmios: Campeonato Paulista, Copa do Brasil, Libertadores, Premio Puskas, até conseguir realizar o sonho que nos revelou naquela tarde no Portuários, o de jogar ao lado de ídolos na Espanha. Lá ganhou Copa do Rei, Campeonato Espanhol, Liga dos Campeões, Mundial de Clubes.

Liderava bem a seleção brasileira na Copa de 2014 até a sua contusão e bateu o pênalti decisivo para o ouro Olímpico do Brasil no Maracanã. Até que em agosto de 2017, tornou-se o jogador mais bem pago do mundo na transação mais cara da história. O “salário do Neymar” virou meme e muita gente questiona a quantidade de dinheiro paga para “um jogador de futebol”.

Há muito preconceito em torno da profissão escolhida por Neymar.

Sem sequer entrar no mérito dos valores e de tudo o que a indústria do futebol movimenta e representa, ele atua em uma área e em um nível onde não dá para fingir talento ou enganar por muito tempo. Enquanto em empregos mais convencionais as pessoas normalmente não gostam de ter suas performances avaliadas e julgadas, Neymar enfrenta isso cerca de duas vezes por semana, há anos.

Medalha de Ouro: Neymar se consagra campeão da Rio 2016

O que ele “entrega” acontece ao vivo para milhares de pessoas e impacta diretamente no resultado financeiro de sua empresa. Em uma sociedade repleta de “braço curto” e de transferência de responsabilidade, resolveu sair de um dos maiores clubes do mundo, onde jogava ao lado do melhor jogador da atualidade, para liderar e ser protagonista de outro clube europeu.

Você pode até não gostar de futebol, do Neymar ou do que ele representa, mas, aos 25 anos, ele é exemplo de realização profissional: faz o que gosta, em altíssimo nível e é reconhecido e valorizado por isso.

Um caminho certamente construído com muito esforço, renúncia, resiliência e talento. Muito talento. Desde criança, convive com a expectativa de milhares de pessoas e hoje, independente de novas conquistas individuais e/ou coletivas, pode dizer que chegou ao topo da pirâmide de uma profissão onde a grande maioria para lá embaixo, no sonho. E há muito mérito nisso.